Momento de viragem nas claques
Quando se fala de claques no futebol duas coisas são claras, para toda a gente: que necessariamente vão continuar a existir, mas que vai ter de mudar alguma coisa, para bem do espectáculo a que pertencem.
A ideia de mudança é neste momento muito clara para o poder político, para os clubes, representados na Liga, para as forças de segurança e mesmo para os próprios grupos de adeptos organizados em claques.
Os incidentes no Benfica-FC Porto, a 01 de Abril, voltaram a mostrar que além de serem parte essencial da "cor" de um grande espectáculo, podem ser também um problema, pela violência que agregam, e que é consensual que urge resolvê-lo.
Hermínio Loureiro, presidente da Liga (LPFP) deu o mote, dias depois, "decretando" a "tolerância zero" para as claques, e fazendo eco de legislação já existente pediu o seu registo.
Na passada semana o Conselho Nacional contra a Violência no Desporto (CNVD) foi por aí e no seu seio conseguiu o que parece ser um compromisso histórico entre a Liga, os três "grandes" e o Boavista para legalizarem as claques até ao início da próxima época.
Poucos dias antes a imagem pública das claques tinha sofrido outra "machadada" forte, com a divulgação pública de um relatório policial que relacionava várias com grupos neonazis, nomeadamente a Portugal Hammerskin.
Uma "má imagem" de que as claques se esforçam por se demarcar, sem no entanto conseguir esbater completamente a auréola de violência, mesmo que sem o triste historial de "hooligans" ingleses, holandeses ou italianos.
Em Portugal não houve Heysel nem o recente Palermo-Catania, mas ainda não passou a recordação do very-light lançado da bancada do Benfica sobre a do Sporting, na final da Taça de 1996.
Desde então que as coisas mudaram um pouco, é certo. Avançou- se em termos legislativos logo em 1998 e sobretudo em vésperas do Euro2004, construindo as bases legais que a CNVD agora quer ver aplicadas.
Quanto à Polícia de Segurança Pública, foi melhorando o seu modo de operar com as claques e praticamente trocou as cargas policias pela acção dos "spotters", a funcionar no meio dos adeptos, impedindo na medida do possível os "rastilhos" de confrontos.
O elogio de um dirigente "Torcida Verde", do Sporting é assim insuspeito: os "spotters" são por estes dias a única coisa visível da lei e evitam o que seria uma "guerra civil" nos estádios.
Há anos que o Sporting cortou com o apoio às suas claques, no que é a posição mais radical entre os clubes grandes, enquanto que no Benfica os privilégios passam, nomeadamente, pela cedência de instalações - mas não no estádio.
Ignoradas, toleradas ou mal-amadas, nem por isso deixam de existir, e de serem essenciais ao futebol, que "precisa delas para consolidação das suas características de espectáculo e de espaço de criação de mitos e semideuses", como aponta Manuel Sérgio, professor e filósofo do Desporto.
As visões de futuro são muitas, e variadas, não passando, para o antropólogo Daniel Seabra, pelo actual estado de "divórcio", ou quase, entre clubes e claques.
"Deixando de ser apoiadas pelo clubes, que precisam do seu incentivo às equipas, ficam vulneráveis a perversas influências externas, como por exemplo a grupos radicais de extrema direita", argumenta Seabra, que até advoga o pagamento de ordenados aos responsáveis das claques.
Os tempos poderão, de facto, ser de mudança, se claques, clubes, liga e tutela política - que promete novidades, por via da regulamentação da lei de bases - avançarem no sentido da legalização.
Domingo, no Estádio da Luz, as claques dos dois "grandes" de Lisboa terão uma ocasião soberana de provar que pretendem, mesmo, afastar-se da imagem de violência.
Agência LUSA
A ideia de mudança é neste momento muito clara para o poder político, para os clubes, representados na Liga, para as forças de segurança e mesmo para os próprios grupos de adeptos organizados em claques.
Os incidentes no Benfica-FC Porto, a 01 de Abril, voltaram a mostrar que além de serem parte essencial da "cor" de um grande espectáculo, podem ser também um problema, pela violência que agregam, e que é consensual que urge resolvê-lo.
Hermínio Loureiro, presidente da Liga (LPFP) deu o mote, dias depois, "decretando" a "tolerância zero" para as claques, e fazendo eco de legislação já existente pediu o seu registo.
Na passada semana o Conselho Nacional contra a Violência no Desporto (CNVD) foi por aí e no seu seio conseguiu o que parece ser um compromisso histórico entre a Liga, os três "grandes" e o Boavista para legalizarem as claques até ao início da próxima época.
Poucos dias antes a imagem pública das claques tinha sofrido outra "machadada" forte, com a divulgação pública de um relatório policial que relacionava várias com grupos neonazis, nomeadamente a Portugal Hammerskin.
Uma "má imagem" de que as claques se esforçam por se demarcar, sem no entanto conseguir esbater completamente a auréola de violência, mesmo que sem o triste historial de "hooligans" ingleses, holandeses ou italianos.
Em Portugal não houve Heysel nem o recente Palermo-Catania, mas ainda não passou a recordação do very-light lançado da bancada do Benfica sobre a do Sporting, na final da Taça de 1996.
Desde então que as coisas mudaram um pouco, é certo. Avançou- se em termos legislativos logo em 1998 e sobretudo em vésperas do Euro2004, construindo as bases legais que a CNVD agora quer ver aplicadas.
Quanto à Polícia de Segurança Pública, foi melhorando o seu modo de operar com as claques e praticamente trocou as cargas policias pela acção dos "spotters", a funcionar no meio dos adeptos, impedindo na medida do possível os "rastilhos" de confrontos.
O elogio de um dirigente "Torcida Verde", do Sporting é assim insuspeito: os "spotters" são por estes dias a única coisa visível da lei e evitam o que seria uma "guerra civil" nos estádios.
Há anos que o Sporting cortou com o apoio às suas claques, no que é a posição mais radical entre os clubes grandes, enquanto que no Benfica os privilégios passam, nomeadamente, pela cedência de instalações - mas não no estádio.
Ignoradas, toleradas ou mal-amadas, nem por isso deixam de existir, e de serem essenciais ao futebol, que "precisa delas para consolidação das suas características de espectáculo e de espaço de criação de mitos e semideuses", como aponta Manuel Sérgio, professor e filósofo do Desporto.
As visões de futuro são muitas, e variadas, não passando, para o antropólogo Daniel Seabra, pelo actual estado de "divórcio", ou quase, entre clubes e claques.
"Deixando de ser apoiadas pelo clubes, que precisam do seu incentivo às equipas, ficam vulneráveis a perversas influências externas, como por exemplo a grupos radicais de extrema direita", argumenta Seabra, que até advoga o pagamento de ordenados aos responsáveis das claques.
Os tempos poderão, de facto, ser de mudança, se claques, clubes, liga e tutela política - que promete novidades, por via da regulamentação da lei de bases - avançarem no sentido da legalização.
Domingo, no Estádio da Luz, as claques dos dois "grandes" de Lisboa terão uma ocasião soberana de provar que pretendem, mesmo, afastar-se da imagem de violência.
Agência LUSA